Congresso do Bicentenário: onde o passado, presente e o futuro se encontram reuniu pesquisadores de referência em história, cultura e desenvolvimento socioeconômico

As trocas culturais e de tecnologias entre imigrantes são práticas antigas no Sul do Brasil. Vindo da Alemanha e tendo se estabelecido em Blumenau, o naturalista Fritz Müller, por exemplo, contribuiu de forma fundamental para uma das obras que mudou a ciência do planeta: “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin. Do Rio Grande do Sul, os maiores precursores de movimentos de proteção ambiental eram descendentes de imigrantes, como o padre Balduíno Rambo, Henrique Luís Roessler e José Lutzenberger.

A relação entre processo de formação da consciência ecológica brasileira e o bicentenário da imigração alemã em São Leopoldo foi destaque nesta quarta-feira, dia 27, na palestra do agrônomo, ecologista e escritor Arno Kayser, durante o Congresso do Bicentenário de São Leopoldo: Onde o Passado, Presente e o Futuro se Encontram.

“Natural de Tupandi, o padre Balduíno Rambo foi também escritor, botânico, geógrafo. Ele foi quem sugeriu as ideias de criação das primeiras unidades de conservação. E uma das principais contribuições dele é a autoria desse livro chamado Fisionomia do Rio Grande Sul, de 1942, em que ele descreve a paisagem do Rio Grande Sul com uma qualidade, tanto literária quanto científica impressionante”, destacou Kayser sobre o religioso filho de imigrantes, que foi fundamental para naturalistas que vieram depois, como José Lutzenberger. Formado agrônomo, ele deixou o emprego em 1970, em uma multinacional química alemã, onde trabalhava com adubos, para se dedicar ao ambientalismo.

“Lutzenberger se juntou com alguns amigos, que eram também formados ambientalistas por Henrique Luís Roessler, ele criou a Agapan, a Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, onde atuou até 2002, quando faleceu. Ele é uma pessoa que é uma referência mundial na luta em defesa da Amazônia. Ele também atou muito na questão da agricultura, que ele chamava de ‘regenerativa’, na questão de resíduos e indústria, e foi um dos autores intelectuais da lei dos agrotóxicos”, explicou Kayser. Lutzenberger consolidou sua liderança neste movimento ao publicar o livro “Manifesto Ecológico Brasileiro: O Fim do Futuro?”, em 1976.

O evento, que teve três dias de programação gratuita, foi promovido pela Prefeitura de São Leopoldo, por intermédio da Secretaria de Cultura e Relações Internacionais (Secult), e da Faculdades EST.

Para diretor-geral da Faculdades EST, “planejar o futuro é um sinônimo de pensar questões ambientais”

Embora com mais de cem anos de trajetória no ensino, antes mesmo de uma formalização de instituição, a Faculdades EST caminha para a celebração de seus 80 anos em 2026. Para o diretor-geral da instituição, Prof. Dr. Valério Schaper, os temas tratados no congresso convergem para esta data marcante da EST. “Trabalhar 200 anos passados de história e prospectivamente pensar 200 anos no futuro, considerando especialmente a questão ambiental porque ela é, sem dúvida nenhuma, uma das chaves para o futuro. Como nós vamos lidar com a questão ambiental é determinante para o tipo de vida que nós teremos no futuro. Acho que isso foi um acerto muito grande nas relações entre estes temas no Congresso Bicentenário”, celebra.

Marcada por intensas trocas culturais por receber estudantes de todas as partes do Brasil e intercambistas de outros países, a Faculdades EST acompanhou as mudanças em coerência com atualizações de linguagens, acessibilidades, temáticas, além de questões ambientais – como as usinas de geração de energia fotovoltaicas instaladas no campus.

“Provavelmente boa parte da explicação dessa longevidade é uma certa fidelidade a um conjunto de princípios e valores que as instituições têm. A escola, ao longo desse tempo, tem conseguido manter uma certa solidez naquilo que talvez seja o núcleo duro da sua história, ou seja, um respeito por aquilo que é transmitido, um respeito pelas pessoas. Mas eu diria que agora também a gente acrescenta uma preocupação muito grande por inovação: como nós vamos continuar sendo nos próximos anos?”, resume o diretor-geral, ao lembrar que este questionamento também esteve presente nas temáticas do Congresso. “As pessoas gostam muito de ter estudado aqui e guardam isso com carinho. Eu acho que isso talvez é o maior patrimônio dessas instituições e a nossa aqui também partilha isso”, finaliza.

Para a celebração dos 80 anos, a Faculdades EST prepara o lançamento de novos cursos presenciais e à distância, além de uma nova marca que será lançada em 2026.

Sediado no campus da Faculdades EST, o congresso multidisciplinar abordou diferentes temas relacionados à história, cultura, desenvolvimento socioeconômico e perspectivas futuras de São Leopoldo. Com palestras, mesas redondas, apresentações de pesquisa e eventos culturais, a programação contou com professores, gestores e pesquisadores de diversas áreas.