Em abertura do “Congresso do Bicentenário: onde o passado, presente e o futuro se encontram”, autoridades associaram as possibilidades futuras de desenvolvimento à riqueza histórica e cultural da população que vive na cidade

Sotaques de diferentes partes do país, múltiplos idiomas e o som do piano de cauda compuseram o contexto da abertura do Congresso do Bicentenário de São Leopoldo: Onde o Passado, Presente e o Futuro se Encontram. Sediado em uma das cidades mais antigas do Rio Grande do Sul, o evento multidisciplinar reafirma a história e traça perspectivas futuras baseado em inovações que vêm de movimentos migratórios. Na abertura do Congresso, autoridades associaram as possibilidades futuras de desenvolvimento de São Leopoldo à riqueza histórica e cultural da população que vive na cidade.

“Nós queremos ser a quarta economia do Estado até 2030. Então veja, é todo um processo cultural, histórico, educacional, mas também que integre a população que reside aqui hoje, já que são centenas de nacionalidades presentes aqui. Hoje nós estamos recebendo prêmios nacionais pela forma como nós estamos tratando os migrantes aqui, com cuidado, com busca de apoio cultural, histórico, saúde”, afirma o prefeito de São Leopoldo Ary Vanazzi, ao dizer que a cidade repete a sua história e está sempre pensando mais longe.

“Recebemos imigrantes alemães em 1824, mas antes disso já havia aqui pessoas de outras nacionalidades. E até hoje continuamos recebendo, a partir de universidades, por exemplo, e é isso que a caracteriza como uma cidade acolhedora. É evidente que esse momento histórico de 200 anos faz uma diferença enorme, mas o que nós queremos construir é uma relação cultural e histórica com todos os povos que estão aqui hoje, que haja uma relação fraterna. Que aqueles que vieram depois possam conhecer a história e conhecer o seu papel na cidade”, explicou Vanazzi, ao mencionar importância dos intercâmbios culturais, sociais e tecnológicos para cuidar do patrimônio, discutir obras e investimentos determinantes para os próximos anos.

A programação do evento é composta por palestras, mesas redondas, apresentações de pesquisa relacionados à história, cultura e desenvolvimento socioeconômico, com demonstrações de como as experiências vindas de outras partes do mundo, e de outros momentos históricos, podem inspirar iniciativas locais.

Também estiveram na abertura do evento outras autoridades políticas e acadêmicas, como o professor e historiador Martin Dreher, representante da comissão histórica do bicentenário, que evidenciou que as trocas culturais são fundantes na região.

“Os imigrantes que vieram em 1824 eram miseráveis: trabalhadores de carpintaria, agricultores. Pela primeira vez vamos ter agricultura de pequenos produtores em um país de latifúndios. Pela primeira vez temos pessoas brancas trabalhando a terra com as próprias mãos – antes quem fazia isso eram afrodescendentes escravizados, e por isso houve solidariedade entre eles. Foi com eles que os imigrantes alemães aprenderam a construir as primeiras choupanas de pau-a-pique. Que seja um seminário em que nossa história possa ser recuperada lembrando os miseráveis que aqui criaram as bases da industrialização do Brasil”, afirmou o pesquisador.

“O Monumento da Imigração em São Leopoldo tem que ser mudado”

Com mais de 50 livros publicados, Dreher ainda relembrou as condições enfrentadas por aqueles que cruzaram oceanos, expulsos da Europa Central. “São esses miseráveis que vem para o Brasil, em cascas de noz: veleiros de 30 metros de comprimento dos 5 metros de largura, em uma viagem de uns 130 dias. Uma viagem com mulheres dando à luz, perdendo os seus bebês, jogando os seus maridos no mar. O Monumento da Imigração em São Leopoldo tem que ser mudado. Lá está escrito ‘Den Vätern zum Gedächtnis’, deveria estar escrito ‘Usere Mütter zum Gedächtnis’. Não só em memória de nossos pais, mas em memória de nossas mães”, defendeu.

Programação sobre conexões culturais, sociais e geográficas

O evento acontece ainda nos dias 26 e 27 de março, promovido pela Prefeitura de São Leopoldo, por intermédio da Secretaria de Cultura e Relações Internacionais (Secult), e da Faculdades EST. As atividades da programação debatem conexões culturais, sociais e geográficas que se relacionam a perspectivas futuras.

Com o tema “São Leopoldo: onde o passado, presente e futuro se encontram – 1824 – 2024”, o congresso conta com uma programação que inclui professores, gestores e pesquisares de diversas áreas. Toda a programação tem entrada franca e a inscrição deverá ser feita no site da Faculdades EST. Serão emitidos certificados de participação.

Palestras, mesas redondas, apresentações de pesquisa e eventos culturais estão na programação do Congresso

O congresso multidisciplinar abordará diferentes temas relacionados à história, cultura, desenvolvimento socioeconômico e perspectivas futuras de São Leopoldo. Com palestras, mesas redondas, apresentações de pesquisa e eventos culturais, os participantes terão a oportunidade de explorar as origens da cidade, refletir sobre seu presente e imaginar seu futuro. Os trabalhos do segundo dia iniciam com a palestra do médico e neurocientista Dr. Miguel Nicolelis, na Sociedade Orpheu.

 

Terça-feira, 26 de março

Manhã

9h30 – Palestra com Prof. Dr. Miguel Nicolelis na Sociedade Orpheu.

 

Tarde

Palestras com:

14h30 – Stephan Treuke: A revitalização do sistema fluvial Emscher e seus Impulsos para a transformação ecológica e socioeconômica da região;

15h30 – Uta Karrer- “Museu da Francônia em Feuchtwangen: Preservação e comunicação do patrimônio cultural”

16h30 – Klaus Lauck – “O que nos conecta em ambos os lados do oceano”

18h30: Atividades culturais

 

Quarta-feira, 27 de março

8h30 – Mesa redonda – Eixo temático: Meio Ambiente

Rosane Márcia Neumann – “Terras, colonização e conflitos sociais”

Arno Kayser – “Contribuição dos descendentes alemães na evolução da consciência ecológica no Brasil”

Márcio Linck – “Ocupação urbana e Gestão Ambiental em São Leopoldo”

Joel Garcia Dias – “A experiência leopoldense dos `Parques sócio-ambientais”

Moderação: Profa. Dra. Marli Brum

10h- Mesa redonda- Eixo Temático: Desafios da Governança local frente à inundação e a escassez hídrica

Viviane Feijó – “Cidades esponjas”

Darci Zanini – “Sistema de monitoramento de áreas protegidas”

Moderação: Promotora de Justiça Dra. Ximena Cardoso

 

Tarde

14h – Mesa redonda- Eixo Temático: Educação

Jorge Luiz da Cunha – “A história da imigração e seu papel nas Praxis da Educação nas comunidades no sul do Brasil independente”

Isabel Cristina Arendt – “Os primórdios da educação em São Leopoldo: escolas e produção de material didático”

Cristina Seibert Schneider – “A educação patrimonial na ressignificação do valor simbólico: a ciência da mente e a memória”

Moderação: Profa. Dra. Simone Imperatore

16h – Mesa redonda- Eixo Temático: Religião

Luiz Fernando Medeiros Rodrigues – “Jesuítas no Sul do Brasil: atividades pastorais e imigração alemã”

Wilhelm Wachholz – “Luteranismo: histórias de uma identidade religiosa minoritária”

Ricardo Willy Rieth – “Memórias coletivas e contemporaneidade: considerações a propósito do Bicentenário da Imigração (1824-2024)”

Moderação: Prof. Dr. Oneide Bobsin