Rampa para cadeirantes acessarem o trem e sensor de obstáculos para deficientes visuais e auditivos são criações de alunos para a  Mostratec-Liberato, a maior feira de ciência e tecnologia da América Latina.

Corredores lotados e adolescentes com brilho nos olhos, ávidos por explicarem qual o propósito do projeto de pesquisa que se dedicaram por meses a fio, demonstrando a vontade de colocar tudo em prática e, talvez, auxiliarem a mudar a sociedade com espaços e comportamentos mais acolhedores. Este foi o panorama da 39ª Mostratec-Liberato – Mostra Internacional de Ciência e Tecnologia, que encerra hoje (24), às 21h. O evento, que é o maior do gênero na América Latina, tem sua organização é feita pela Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, tendo o Sebrae como parceiro na realização do evento. Ele acontece nos pavilhões da Fenac, em Novo Hamburgo/RS, tem entrada franca e reúne jovens pesquisadores de 12 países e 21 estados brasileiros. A movimentação da feira foi grande nestes três dias, surpreendendo os organizadores já que está sendo realizada cerca de seis meses após a maior tragédia  climática do Rio Grande do Sul que afetou a vida do povo gaúcho, inclusive inviabilizando a logística do aeroporto da capital, que retornou parcialmente suas atividades há menos de uma semana.

Os adolescentes Bruno Fontana Guilherme Caselli, Lucas Pocol Roncati e Rafael Dagnoni de Oliveira, alunos do 2º ano do Colégio Miguel de Cervantes, de São Paulo/SP, trouxeram uma proposta inovadora, um sensor de obstáculos. “Quando a gente estava decidindo um tema para fazer o projeto, andamos em volta da nossa escola e vimos que as ruas de São Paulo, nossa cidade, estão muito precárias. Isto afeta toda a população e, acreditamos, mais as pessoas portadoras de deficiências. Achamos que elas podem se sentir excluídas e até impedidas de conseguir aproveitar os seus direitos como cidadãs. Aí surgiu o nosso trabalho que tem como tema as cidades inteligentes, que é uma cidade onde está tudo incluso e a tecnologia auxilia a dar os direitos para essas pessoas”, relata Rafael, de 16 anos.

Criamos um dispositivo que detecta algum tipo de obstáculo que esteja na frente da pessoa com deficiência visual, por exemplo. Se tiver alguém passando, ele vai detectar e vai tocar e vibrar. “A gente colocou para vibrar também, para incluir as pessoas que têm deficiência auditiva. Conforme o usuário vai chegando mais perto, ele vai tocar mais rápido, então se está longe, ele vai devagar, aí se ele chegar mais perto, ele vai ficando mais rápido e até uma hora que ele apita e o som fica constante”, esclarece ele.

Os meninos percebem o quanto a realidade de quem precisa de auxílio pode ser dura. ‘A gente não testou com ninguém com deficiência, mas a gente calculou algumas estimativas que dá para ter uma ideia. E no nosso teste achamos que ele não substitui a bengala, mas ele auxilia. Ele é muito barato de fazer, então o custo de produção médio foi entre R$200 e R$300. Em escala industrial este custo pode diminuir mais. Ele também leva vantagem econômica sobre o cão guia que custa, em média, de R$10 a R$50 mil, dependendo da raça. Então, acreditamos que o nosso projeto pode auxiliar na inclusão e conseguirmos atingir o nível das cidades inteligentes”, finaliza Rafael.

RAMPA PARA O TREM

Já Guilherme Zibetti, de 17 anos, aluno do 3º ano do Curso Técnico da Mecânica da Fundação Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo/RS, resolveu criar uma rampa que facilita o acesso de cadeirantes ao metrô interurbano. “Eu escolhi este tema porque eu vivenciei isso na prática com um amigo meu caindo dentro do vão do trem. Também percebi, quando estava andando de trem, que o vão era muito grande, quase cabendo um pé inteiro. Eu parei para pensar se ele, que não tem nenhuma deficiência teve esse problema, como que o cadeirante consegue passar ali, e cheguei à conclusão que na verdade ele não consegue, ele precisa de ajuda”, explica ele.

Hoje o cadeirante sofre na prática quando precisa se deslocar pelo sistema de trens que liga as cidades da região metropolitana da capital gaúcha. “Atualmente a Trensurb tem um sistema de rampa, que é manual. Geralmente o cadeirante não espera o funcionário vir e colocar a rampa no trilho, porque leva tempo e ele prefere se empinar numa roda só e tentar vencer sozinho o vão. Isso com certeza bota em risco a integridade física dele”, se preocupa ele.

O adolescente também conta sua expectativa de colocar a pesquisa em prática e auxiliar as pessoas na vida cotidiana. “O mercado que o projeto tem é bem amplo porque eu posso ir tanto para área da acessibilidade, vender para governo, vender pra empresas, um mercado B2B e fabricar. Isso poderia ser feito em parceria com outras empresas que gostariam de investir no projeto, porque atualmente não tenho como construir em larga escala isso. Eu teria que ter alguma parceria de alguma empresa para poder começar a fabricar de verdade um protótipo em escala real”, comenta Guilherme.

O jovem pesquisador entende a importância de iniciativas como a dele. “Eu acho que esse projeto não é só um projeto tecnológico, ele é um projeto social, para deixar o transporte mais democrático, para todas as pessoas, independente do estado físico delas, poderem acessar o transporte, que é um meio muito importante, principalmente o Trensurb. Por exemplo, quem vai de Sapucaia para Porto Alegre ou de Novo Hamburgo para Porto Alegre diariamente, que tem esse tipo de deficiência, tem muito problema, tem essa barreira arquitetônica que é muito chata, incomoda muito. Eu acho que esse projeto vai solucionar esse tipo de problema”, conclui.

O resultado de toda essa dedicação poderá ser premiado amanhã (25), em uma cerimônia oficial, que acontece no Teatro FEEVALE, em Novo Hamburgo/RS, às 20h. Esta é sempre uma grande surpresa, para todos, até para os realizadores, pois a comissão avaliadora entrega seu parecer praticamente na hora da celebração.

No total da Mostra, são apresentados 795 projetos de estudantes do ensino médio e técnico, do ensino fundamental e da educação infantil. Além da Mostra, acontece também a Mostratec-Liberato Júnior, o Seminário Internacional de Educação Tecnológica (Siet) e o Desafio de Robótica Mostratec-Liberato Atto.

Além do Brasil, participam estudantes dos países: Argentina, Colômbia, Dinamarca, México, Paraguai, Peru, Portugal, Suíça, Taiwan, Tunísia e Ucrânia.

A Mostratec-Liberato conta com o patrocínio do Sicredi, do Banrisul, da Petrobras, do CNPq e do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Governo Federal.

A Mostratec-Liberato terá transmissão ao vivo pelo canal do YouTube: www.youtube.com/oficialmostratec

Mais informações em www.mostratec.com.br .

Programação:

Sexta-feira 25/out       

8h às 18h – Livre

20h – Cerimônia de premiação  Teatro FEEVALE